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Inês Etienne Romeu
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Dates d'existence
Historique
Inês Etienne Romeu nasceu em 22 de agosto de 1942, na cidade de Pouso Alegre (MG), filha de Paulo Romeu Junior e Maria Etienne Arreguy, teve sete irmãos. Formou-se no curso primário do Colégio Nossa Senhora do Carmo em Cataguases (MG) e no curso ginasial do Colégio São Domingos em Poço de Caldas (MG). Com a mudança da família para Belo Horizonte (MG), terminou o curso clássico no Colégio Marconi, em 1960.
No ano seguinte, 1961, ingressou no curso de Sociologia e Política da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), passando a fazer parte do movimento estudantil e do Partido Socialista Brasileiro (PSB). No final do segundo ano de Sociologia, transferiu-se para o curso de História, da mesma universidade. Depois do golpe de 1964 passou à militância contra a ditadura, primeiramente na Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop). Em 1962 Inês tornou-se funcionária do Banco Mineiro de Produção e do Banco do Estado de Minas Gerais (BEMGE), quando este foi criado em 1967 a partir da fusão do primeiro com o Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais. Nesse período frequentou o Sindicato dos Bancários e teve contato com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Inês abandonou a universidade em 1963, voltando ao curso de História da UFMG em 1965.
Acompanhando as unificações e divisões das organizações de oposição ao regime, Inês integrou além da Polop, o Comando de Libertação Nacional (COLINA), a Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares (VAR-Palmares) e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), nesta última chegando a participar do Comando Nacional ao lado de Carlos Lamarca e Hebert Daniel.
Em 05 de maio de 1971, então afastada da VPR, Inês foi presa ilegalmente por agentes do Delegado Fleury do Deops em São Paulo (SP) sob acusação de ter participado do sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher, ocorrido meses antes no Rio de janeiro. No dia seguinte foi levada à cidade do Rio de Janeiro, onde tentou suicidar-se atirando-se na frente de um ônibus. Após breve passagem por diferentes hospitais militares, foi transferida para um centro clandestino de prisão e tortura em Petrópolis (RJ) onde permaneceu por 96 dias em cárcere privado sendo torturada, estuprada e levada a tentar várias vezes o suicídio. Mais tarde esta instalação usada pelos agentes do Estado brasileiro para praticar o terror contra opositores do governo ficou conhecida como a Casa de Petrópolis e, ainda, a Casa da Morte. Entre todos os militantes que passaram pelo local Inês foi a única sobrevivente conhecida.
Inês conseguiu escapar da morte fingindo aceitar um acordo com os agentes da repressão, e foi levada em 11 de agosto de 1971 para a casa de uma irmã em Belo Horizonte (MG). Resgatada por familiares e amigos, foi então levada para a Clínica Pinel, pesando pouco mais de 30kg. Cinco dias depois foi internada na Casa de Saúde Santa Maria na mesma cidade onde permaneceu por três meses. Em novembro de 1971, por esforço da família e de seu advogado Augusto Sussekind de Moraes, teve sua prisão legalizada. Foi enviada para o Rio de Janeiro (RJ) e encarcerada em vários estabelecimentos da Vila Militar até fevereiro de 1973, quando foi transferida para o Pavilhão de Segurança Nacional do Instituto Penal Talavera Bruce do Sistema Penitenciário do Estado do Rio de Janeiro.
Foi condenada à prisão perpétua em agosto de 1972, pela 3º Auditoria do Exército, por crime de sequestro e morte. Essa condenação foi modificada para trinta anos de reclusão em maio de 1977, pois após revisão concluiu-se que Inês não havia cometido crime de morte.
Em 1975 casou-se com Jarbas Silva Marques, antigo namorado da adolescência e também preso político. O casamento foi principalmente um ato político, com o objetivo de proteger a integridade física de Inês. Divorciaram-se oficialmente em 1984.
Beneficiada pela Lei 6.683/79 conhecida como Lei da Anistia, Inês saiu da prisão em 29 agosto de 1979 sendo a última presa política a ser libertada no país.
Uma semana após sua saída Inês compareceu, acompanhada de familiares e amigos, à sede do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Nessa ocasião entregou documentos relacionados à sua prisão, incluindo um relatório escrito em 18 de setembro de 1971 que denunciava a existência e os acontecimentos referentes a Casa da Morte, fornecendo informações sobre seus torturadores e sobre a passagem de outros militantes pelo centro de tortura.
Em 03 de fevereiro de 1981, com o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), amigos e familiares, além de familiares de desaparecidos políticos, Inês reuniu uma comitiva que a acompanhou em caravana até Petrópolis quando finalmente conseguiu localizar a Casa da Morte, momento amplamente registrado pela imprensa. Enquanto esteve em cativeiro Inês havia guardado informações que foram decisivas para a localização do centro de tortura, como o número do telefone da casa onde foi mantida e o primeiro nome do proprietário, Mário. Inês enumerara 20 pessoas que trabalhavam na casa de Petrópolis, apenas quatro delas tiveram seu nome completo identificado. Dois dias depois, acompanhada pela irmã, a jornalista Lúcia Romeu, o advogado e deputado Modesto da Silveira e um fotógrafo, Inês identificou e denunciou em seu próprio consultório, o médico psiquiatra e psicanalista Amilcar Lobo. Colaborador das torturas no regime militar, Lobo apresentava-se como dr. Carneiro quando a atendia no cárcere em Petrópolis e lhe aplicava Pentotal, o chamado “soro da verdade”. Lobo teve seu registro médico cassado pelo CRM do Rio de Janeiro. Inês também entrou sem sucesso com um processo contra Mário Lodders, proprietário da casa de Petrópolis.
Logo após sua libertação Inês retomou os estudos e formou-se ao final de 1981 em Licenciatura Plena pelo Curso de História do Centro de Humanidades da Universidade Federal do Ceará. Nos últimos meses na universidade frequentou cursos de arquivologia e de documentação e pesquisa, um dos quais ministrado pela professora Ana Maria Camargo. Por intermédio desta, Inês foi contratada em janeiro de 1982 como historiógrafa na Divisão do Arquivo do Estado de São Paulo (DAE), durante a gestão de José Sebastião Witter. Em dezembro de 1983 foi nomeada diretora do Serviço de Arquivo Histórico da instituição e a partir desse momento diretora substituta do DAE, função que exerceu por longos períodos em decorrência de licença do titular, Witter. Já entre setembro de 1988 e 1990 Inês assumiu a direção do Arquivo do Estado, ocasionalmente dirigindo, em substituição, o Departamento de Museus e Arquivos (DEMA) da Secretaria da Cultura do Estado. Nesta secretaria Inês atuou nas gestões de Jorge da Cunha Lima (1984-1987), Bete Mendes (1987-1988) e Fernando Morais (1988-1991).
Durante seu período no Arquivo foi membro da Comissão Estadual de Arquivos, participou da criação do Sistema de Arquivos do Estado de São Paulo (SAESP) além de fazer parte ativamente da constituição da Associação dos Arquivistas de São Paulo (ARQ-SP).
Ainda na administração pública, Inês exerceu cargo na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo (SMC), como assessora do secretário Rodolfo Konder entre 1993 e 1995, e a partir de 2000 dirigiu o Grupo de Desenvolvimento Setorial da Coordenadoria de Desenvolvimento Econômico da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo (SCTDE). Como representante desta secretaria Inês foi membro do Conselho Estadual de Direitos Humanos, do Grupo de Trabalho para acompanhamento do projeto de restauração do Palácio dos Campos Elíseos, do Conselho Deliberativo do Fórum de Desenvolvimento da Zona Leste e do Conselho Consultivo da Fundação PROCON. Em 2002, Inês participou com Ângela Mendes de Almeida, do projeto de pesquisa para a criação do Memorial do Cárcere, depois denominado Memorial da Liberdade e embrião do que é hoje o Memorial da Resistência da Secretaria da Cultura do Estado.
Suas atividades de pesquisa e história nos anos posteriores a saída do Arquivo Público se deram na Porto Calendário Serviços Técnicos, empresa da qual era sócia-administradora e que oferecia serviços como edição de livros, assessoria em pesquisas históricas, organização de acervos documentais, exposições, cursos, projetos e eventos culturais.
A partir de 1994 Inês passou a buscar sua “aposentadoria excepcional de anistiada”. Em agosto desse mesmo ano entregou requerimento protocolado ao Ministério do Trabalho, pleiteando uma “declaração de anistiada” com o fim de requerer aposentadoria junto ao INSS. Após diversas tentativas indeferidas consegue o benefício em 2001. Em 2009 recebeu o Prêmio Direitos Humanos na categoria Direito à Memória e à Verdade, outorgado pelo governo brasileiro e entregue pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva.
No ano de 2003, em episódio nunca esclarecido, Inês foi encontrada gravemente machucada em seu apartamento na rua Maria Antônia em São Paulo. Sofreu traumatismo cranioencefálico, o que a fez sobreviver o resto da vida com sequelas permanentes.
Anos depois, já em março de 2014, durante os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Inês pôde finalmente identificar, através de fotografias, 06 dos agentes do Estado que atuaram na Casa da Morte.
Inês Etienne Romeu viveu até os 72 anos, falecendo no dia 27 de abril de 2015 em sua casa em Niterói (RJ), em decorrência de um infarto, dormindo.
Fontes:
Cartas, noticiário, fotografias, processos judiciais, relatórios policiais, currículo, atos de nomeação e outros atos publicados em diários oficiais, comprovantes contábeis, e outros documentos do fundo Inês Etienne Romeu. APESP.
Relatório, depoimento e outros documentos relacionados com sua prisão apresentados por Inês Etienne Romeu ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (RJ). 1979. Fundo Inês Etienne Romeu. APESP.
COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Reconhecimento fotográfico de agentes da repressão que atuaram na Casa da Morte por Inês Etienne Romeu. 2014.
COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Audiência Pública sobre a Casa da Morte de Petrópolis. Depoimentos de familiares e amigos de Inês Etienne Romeu, Maria Celina Romeu, Sérgio Soares Ferreira, Clayton Rennó e Modesto da Silveira. 2014.
COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Audiência Pública sobre a Casa da Morte de Petrópolis. Relatório. 2014.
COMISSÃO DA VERDADE DO MUNICÍPIO DE PETRÓPOLIS. Depoimento de Antônio Henrique Lago. 2018.
MOREAU. André. Modesto da Silveira: um homem de coragem. IDEA. 2016.
FERNANDES, Letícia. Casamento como ato político na ditadura. Reportagem de O Globo. 2015. https://oglobo.globo.com/brasil/casamento-como-ato-politico-na-ditadura-17684694
ROMEU, Lúcia. A casa de horrores e o médico da tortura. Uma denúncia irrefutável. In: Molica, Fernando (org.). Dez Reportagens que abalaram a ditadura. Editora Record. Rio de Janeiro. 2005.
TELES, Janaína de Almeida. Memórias dos Cárceres da Ditadura: os testemunhos e as lutas dos presos políticos no Brasil. Tese de doutorado em História Social. FFLCH/USP. São Paulo. 2011.
http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-resistencia/ines-etienne-romeu/index.html