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Júlio Prestes de Albuquerque

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Pessoa

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Júlio Prestes de Albuquerque

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  • Júlio Prestes

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área de descrição

datas de existência

1882-1946

história

Júlio Prestes de Albuquerque nasce em 15 de março de 1882, na cidade de
Itapetininga, ao sul do estado de São Paulo. Vive sua infância em meio a uma
sociedade monocultora, escravocrata e monárquica, em clima de ruptura
rumo ao modelo republicano, costurado pelas elites de então. Sua região
de nascimento é próspera área por onde avança o progresso imposto pela
cultura do café. Sua família é representante simbólica dessa elite.
Quarto filho de Fernando Prestes de Albuquerque e de Olímpia de Santana
Prestes, seus anos de formação e sua entrada na política espelham-se na
figura do pai, fazendeiro, advogado e republicano de primeira hora, que chega
a governar o Estado de 1898 a 1900 e a ser seu vice-presidente em períodos
intervalados entre 1908 e 1927. Júlio perde a mãe aos 19 anos de idade, mas
tem o pai a seu lado até 1937, quando este vem a falecer.
De 1902 a 1906, faz o curso de direito na Faculdade de Direito de São Paulo,
no Largo São Francisco, manancial de diversos políticos, juristas e escritores
ao longo de toda a história da República. Além dos estudos, participa de
grupo de literatos com colegas do Direito (com dois deles, chega a fundar um
periódico chamado A Musa) e do Centro Acadêmico XI de Agosto, então em
seus primórdios.
Em maio de 1906, aos 24 anos, casa-se com D. Alice Vieira, com quem
virá a ter três filhos: Marialice, Fernando e Irene. Ainda nesse ano, monta um
escritório de advocacia, dedicando-se com exclusividade a esse ofício até
1909, quando passa a compartilhá-lo com a atividade parlamentar. É também
proprietário de terras, e chega a ter a iniciativa de se associar a outros para
prospectar petróleo em suas terras.
Na adolescência, Júlio Prestes começa a publicar poemas em jornais do
interior do estado de São Paulo (Folha Popular, de Capão Bonito; O Comércio,
de Tatuí; O Comércio e Tribuna Popular, de Itapetininga; Revista Aurora, de
Sorocaba). Escreverá poesia até os últimos anos de vida (o poema mais antigo
do Fundo Júlio Prestes é datado de 1898, e o mais recente, de 1943). Ao longo
de sua existência, redige ainda memórias esparsas, esboços de ficção e textos
de não ficção, notadamente discursos políticos.
Pelo conjunto presente em seu Acervo, é possível observar que Júlio compõe,
sobretudo, poesia lírica; há também um ou outro poema laudatório/cívico ou
jocoso (mencionando colegas da boemia da faculdade ou da carreira política).
Faz reflexões existenciais (sobre temas como envelhecimento, declínio da
glória política, exílio), versos nostálgicos para entes queridos que se foram
(como a irmã Maricota Prestes), versos de amor com toques de sensualidade
(“Seu corpo todo, quente de belleza, /Tem estremecimentos de quem ama...”,
do poema “Véspera de Noivado”, de 1902), entre outros temas. Via de regra,
adepto das rimas, da metrificação fixa e de formas clássicas como sonetos,
em alguns poemas experimentou uma linguagem coloquial próxima à fala
caipira (no poema “Sorocabana”, por exemplo). Cita em alguns deles o escritor
Monteiro Lobato, o jurista e político Rui Barbosa, o poeta português Antonio
Nobre e o francês Paul Verlaine.
Apesar de não participar como autor do movimento modernista1
na sua vertente paulista, tem entre seus amigos o escultor
Victor Brecheret e o escritor Oswald de Andrade, que chega a lhe dedicar o livro
Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade, de 1927.
Júlio Prestes exerce cinco mandatos parlamentares: os quatro primeiros,
de 1909 a 1923, no Congresso Legislativo de São Paulo, e o último, de 1924 a
1927, no Congresso Nacional, ambos pela agremiação política mais influente
da Primeira República - o Partido Republicano Paulista (PRP)
Em sua atuação como parlamentar estadual, propõe ou emenda projetos de
lei acerca da divisão física de propriedades rurais, seguridade social e aumento
nos vencimentos dos funcionários públicos e, especialmente, de 1912 a 1918,
da Estrada de Ferro Sorocabana, na época administrada pela Brazil Railway
Company. Denuncia o descumprimento de várias cláusulas contratuais por
parte dessa companhia privada, a seu ver ferindo o interesse público em diversos
aspectos, até que consegue a rescisão contratual amigável entre as partes e a
retomada da ferrovia pelo Estado de São Paulo. Propõe a criação de tribunais
rurais em resposta aos conflitos entre fazendeiros e colonos, principalmente
os imigrantes italianos. É parte ativa na tribuna do plenário e em comissões
permanentes da casa, chegando a líder de governo na gestão de Washington
Luís, o então presidente do Estado de São Paulo de 1924 a 1927.
Em 1924, Júlio Prestes é eleito deputado federal pelo PRP, justamente o ano
da Revolta dos Tenentes. Esse movimento chega a tomar a capital paulista
entre os dias 9 e 27 de julho, e Júlio toma parte contra ele, ao lado das forças
governistas.
Na segunda metade dos anos 1920, surgem novas legendas, ainda oligárquicas como os
partidos republicanos de diversos estados, mas oposicionistas, dentre os quais o Partido
Libertador (PL) no Rio Grande do Sul e os Partidos Democráticos de São Paulo, do Distrito Federal
e do Rio de Janeiro. Tal surgimento “abriu novas possibilidades de alianças e acomodações
entre as várias forças político-sociais que contestavam o regime vigente”. Em
sua segunda fase, o movimento tenentista toma partido contra os resultados da eleição à
Presidência, que consagra Júlio Prestes, e se une à Aliança Liberal, tendo como resultado a
deposição de Washington Luís e a ascensão de Getúlio Vargas, na Revolução de 1930. Nos
anos 1930, o ideário do movimento já muda, como fruto de toda a experiência acumulada
pelos tenentes nos anos 1920 e por influência de pensadores considerados antiliberais, como
Alberto Torres e Oliveira Viana.
Durante o mandato federal, exercido no Rio de Janeiro, Júlio Prestes é líder
da maioria e apresenta projetos vertidos em lei, como o da Reforma Monetária
(conversão do papel moeda de então a ouro), em apoio ao novo presidente da
República, Washington Luís (eleito em 1926), com quem continua mantendo
estreita ligação profissional e pessoal. Júlio Prestes também participa
ativamente das articulações políticas internas do PRP .
É no Parlamento que vem a estreitar relações com aquele que será seu
adversário fatal em 1930 - o então deputado Getúlio Dornelles Vargas, que
Washington Luís designa como seu Ministro da Fazenda. Nessa época, Júlio e
Getúlio são aliados e se tratam leal e amistosamente.
Todavia, no segundo ano do que será a última legislatura (1927) de Júlio Prestes,
vem a falecer o então presidente do Estado de São Paulo, Carlos de Campos. Com
isso, abre-se a oportunidade de nova disputa eleitoral, para a qual é indicado por
unanimidade, pelos delegados do PRP, o seu nome .
Em 5 de junho de 1927, disputa a Presidência do Estado de São Paulo contra o
candidato de um partido minoritário, elegendo-se por ampla diferença .
Assume o governo em 14 de julho de 1927 e implementa a reforma
administrativa já anunciada em sua plataforma: o desmembramento da
Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas (SACOP) em Secretaria
da Agricultura, Indústria e Comércio e Secretaria de Viação e Obras Públicas.
Estabelece ainda uma série de reformas, ampliações e inovações administrativas,
dentre as quais se destaca a busca do petróleo em território paulista e a linha
ferroviária Mayrink-Santos, extensão da Estrada de Ferro Sorocabana, a fim de
facilitar o escoamento de produtos para o Porto de Santos.
Ainda como governador, Júlio Prestes institui algumas escolas profissionais
mistas (para homens e mulheres) no interior do estado, a Escola de Medicina
Veterinária, o Instituto Profissional de Cegos “Padre Chico”, o Instituto Biológico
de Defesa Agrícola e Animal. Continua dando, como seus predecessores
desde a Convenção de Taubaté, prioridade à defesa do café (da qualidade e
do preço), por meio de uma série de medidas, coordenadas pelo Instituto do
Café. Inaugura, em 1929, com seu secretário de Agricultura, Fernando Costa, o
Parque da Água Branca, que em 1951 virá a ser chamado de Parque Fernando
Costa. O tratamento da hanseníase é estimulado com a criação dos chamados
leprosários (Santo Ângelo, em Mogi das Cruzes; Pirapitingui, em Itu; Cocais, em
Casa Branca; Aimorés, em Bauru; e Padre Bento, em Guarulhos). Também é
criado o Manicômio Judiciário, ao lado do Hospital Juqueri.
A par de todas essas medidas de âmbito geral, do dia a dia do Gabinete
da Presidência do Estado de São Paulo, faz parte receber as muitas cartas e
telegramas de particulares e de entidades, solicitando os mais diversos favores,
de cargos a donativos, caracterizando o clientelismo típico dessa época, bem
como respondê-las e encaminhá-las.
No campo da política partidária, o PRP, nesse final dos anos 1920, passa a
enfrentar a oposição de uma nova agremiação, o Partido Democrático. As
eleições municipais de outubro de 1928 são conturbadas, com acusações de
fraude e de violência. O descontentamento dos opositores é tão forte que já se
cogita ir às armas contra a oligarquia política, o que, junto com uma dissensão
entre os próprios Republicanos, culminará na Revolução de 1930.
A trajetória política ascendente de Júlio Prestes vai culminar em sua
indicação, candidatura e eleição à Presidência da República em 1930. Apoiado
por Washington Luís, seu nome é oficializado por uma Convenção do PRP de
setembro de 1929, junto com o de Vital Soares (presidente do Estado da Bahia),
como seu vice-presidente.
No entanto, é dentro mesmo dos Republicanos que surge seu opositor - o então
presidente do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas, com João Pessoa (presidente
da Paraíba) como seu vice-presidente. Dessa dissidência, capitaneada pelo
presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, surge a Aliança
Liberal em junho de 1929, com apoio de diversos partidos, entre eles o PD de
São Paulo, além de parte do PRM e do PRS.
A campanha transcorre com alguns incidentes sangrentos de parte a parte,
como o Atentado de Montes Claros, em que morreram 5 aliados de Júlio Prestes.
As eleições se dão a 1º de março, e ele e Vital saem delas vitoriosos.
Em 21 de maio, o paulista parte em viagem de navio aos Estados Unidos com
o filho, Fernando Prestes Neto, como presidente da República eleito (mas ainda
não empossado). Lá, ele permanece de 11 a 20 de junho, e se encontra com
o presidente norte-americano Herbert Hoover, com autoridades locais e com
empresários. Esse episódio lhe rende a capa da revista Time de 23 de junho de
1930. Em seguida, parte de navio, em caráter particular, para a Europa, onde se
encontra com D. Alice e as filhas, Marialice e Irene. Ainda assim, na França, na
Inglaterra, na Espanha e em Portugal é recebido pelos chefes de governo e/ou
de Estado da época. Sua estada vai de 27 de junho a 18 de julho.
Quando, dias depois, aporta no Brasil, já encontra os ânimos exaltados, pois
João Pessoa acaba de ser assassinado.
Episódios como esse, o inconformismo dos partidários de Vargas com o
resultado das eleições e dos demais opositores com as regras eleitorais vigentes
(com voto aberto e não secreto, por exemplo) provocam a intensa articulação
entre políticos e militares que resultará na Revolução de 30, em outubro desse
ano. Os governos dos Estados vão sendo tomados um a um pelos rebeldes (com
algumas exceções), até que, em 23 de outubro, Washington Luís é finalmente
deposto na capital federal da época, o Rio de Janeiro.
Júlio Prestes, que acompanha os acontecimentos na capital paulista, abriga-se,
em 25 de outubro, no consulado inglês, de onde parte para Paris, iniciando o
período de exílio político, que vai durar quase 4 anos.
Com esses episódios, encerra-se oficialmente o período histórico conhecido
como Primeira República ou República Velha.
A elite política destituída sofre mais alguns revezes, como processos
jurídicos e bloqueio de bens, mas tais represálias não duram por muito tempo,
nem chegam às últimas consequências. No final de 1930, Júlio
Prestes chega a Paris, de início com a companhia apenas de seu filho Fernando.
Apesar de dificuldades temporárias decorrentes do bloqueio de bens, D. Alice
lhe escreve que está economizando para ir para junto dele. Já no início de 1931,
ele passa a conviver novamente com a esposa, com as outras filhas e com uma
neta, as quais vão a seu encontro na Europa.
A partir de 1931, dispondo de mais recursos financeiros, Júlio e seus
familiares mudam-se para uma residência em Monte Estoril, hoje
pertencente à região metropolitana de Lisboa e próximo à Costa portuguesa,
lugar onde o clima lhe é mais aprazível do que em Paris (além, certamente,
da facilidade da língua). A família Prestes de Albuquerque troca volumosa
correspondência (seja por carta, seja por telegramas e/ou cartões postais) com
amigos e com familiares brasileiros. Evidentemente, Júlio Prestes não está nada
satisfeito com os rumos políticos do Brasil, e externa sua opinião, quer em sua
correspondência privada, quer em suas (esparsas) declarações à imprensa.
Em 1932, as tensões entre paulistas e varguistas chegam ao auge
com a Revolução de 1932, guerra civil entre as duas forças, que vai de julho
a outubro, com a capitulação de São Paulo. Júlio Prestes chega a ir da Europa
a Buenos Aires em setembro, com a intenção de entrar no Brasil para apoiar
seus conterrâneos, mas diante da impossibilidade de se deslocar para o estado,
decide voltar ao velho continente ainda nesse mês.
Embora advertido pela Embaixada brasileira em Portugal de que
deveria informar suas intenções de voltar ao Brasil, não o faz formalmente e
retorna de navio ao Brasil em agosto de 1934, com a família. Desde logo, decidese
a trabalhar como fazendeiro, em suas fazendas das Araras e do Paiol, ambas
contíguas, em Itapetininga, sua terra natal, cumprindo um
ostracismo comum a uma parte significativa dos integrantes do PRP.
Embora tenha deixado de lado a política como carreira, em seus últimos
anos de vida volta a se manifestar publicamente e articular suas posições. Em
agosto de 1942, envia um telegrama a Getúlio Vargas, ainda presidente da
República, solidarizando-se com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
Vargas chega a responder a ele, afavelmente. Em 1945, quando o período de
ditadura varguista conhecido como Estado Novo (1937-1945) está em seu final,
participa das articulações para a fundação da União DemocráticaNacional (UDN),
partido de oposição ao governo. Júlio Prestes chega a discursar
em um comício na cidade de São Paulo, em favor do candidato da oposição,
Brigadeiro Eduardo Gomes, que disputa (e perde) a Presidência da República
contra o General Eurico Gaspar Dutra.
Em 9 de fevereiro de 1946, Júlio Prestes vem a falecer em um hospital da
cidade de São Paulo (o Sanatório Esperança), aos 63 anos de idade, sendo seu
corpo transladado a Itapetininga. Recebe muitas homenagens por meio da
imprensa à época e até anos depois – seus familiares guardam os recortes de
jornal correspondentes. Em 1951, é dado o nome de Júlio Prestes a um prédio da
Estação de Ferro Sorocabana, na região central de São Paulo, junto a uma praça
que lhe é contígua, atualmente ocupado pela Secretaria Estadual de Cultura e
pela Sala São Paulo. Em 1982, ano do centenário de seu nascimento, algumas
publicações são lançadas e uma exposição é realizada em sua homenagem pelo
Governo do Estado de São Paulo, em associação com os familiares do falecido
estadista. Em 1987, sai o inventário do primeiro lote de documentos tratado
pelo APESP.

locais

Itapetininga, São Paulo, Paris, Monte Estoril (Portugal), Rio de Janeiro.

status legal

funções, ocupações e atividades

Júlio Prestes atua como advogado, de 1906-1924, como parlamentar, de 1909-1924, como presidente do Estado de São Paulo de 1927-1930, como fazendeiro de 1934-1946 e como poeta, da adolescência aos anos finais.

Mandatos/Fontes de autoridade

Estruturas internas/genealogia

Júlio Prestes é filho de Fernando Prestes de Albuquerque e de Olímpia de Santana Albuquerque. Com Alice Prestes, tem como filhos Fernando, Marialice e Irene.

contexto geral

Júlio Prestes é político destacado da situação de São Paulo durante a Primeira República (1889-1930). Sua deposição como presidente eleito da República marca o final desse período histórico.

Área de relacionamento

área de controle

Identificador da descrição

identificador da instituição

BR SPAPESP

Regras ou convenções utilizadas

Estatuto

Nível de detalhe

Datas das descrições (criação, revisão e eliminação)

2016

Idioma(s)

Script(s)

Fontes

DEBES, Célio. Júlio Prestes e a Primeira República. São Paulo: Imprensa Oficial;
Arquivo do Estado, 1982.
SYLOS, Honório de. Júlio Prestes, o estadista e o intelectual. São Paulo: Arquivo do Estado, 1982
APESP. Catálogo da Exposição Júlio Prestes, o último presidente da República Velha. Arquivo do Estado, 2016.

Notas de manutenção

Acções