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Fundo BR SPAPESP JVCM - José Vieira Couto de Magalhães
Relatórios

Identificação

Código de referência

BR SPAPESP JVCM

Título

José Vieira Couto de Magalhães

Data(s)

  • 1861 - 1898 (Produção)

Nível de descrição

Fundo

Dimensão e suporte


  • Dimensão:19 documentos.
  • Suporte: papel
  • Gênero: textual

Contextualização

Produtor/Acumulador

José Vieira Couto de Magalhães (1837-1898)

Biografia

José Vieira Couto de Magalhães, nasceu na cidade de Diamantina, Minas Gerais, no dia 1° de novembro de 1837, filho de Antonio Carlos de Magalhães e Thereza do Prado Vieira do Couto. Estudou no Seminário do Caraça em Mariana, e mais tarde na Escola Militar do Rio de Janeiro. Em São Paulo, estudou na Faculdade de Direito recebendo o grau de bacharel em 1859 e o de doutor em 1860 (1).

Exerceu diversos cargos públicos. Fez parte da lista tríplice para senador vitalício por duas vezes, não chegando a ser escolhido. Foi conselheiro de Estado, deputado por Mato Grosso, secretário de governo de Minas Gerais (1860-1861) e presidente das províncias de Goiás (1862-1864), Pará (1865-1866), Mato Grosso (1866-1868) e São Paulo (1889) (2).

Durante seu governo na província de Mato Grosso, participou da Guerra do Paraguai ganhando destaque como comandante em chefe das forças que reconquistaram o território. Pelo seu desempenho recebeu as honras de Brigadeiro do Exército e, também, o título de Barão de Corumbá, do qual declinou (3).

A partir de 1867, Couto de Magalhães dedicou-se com afinco aos negócios de iniciativa privada, principalmente em São Paulo, atuando na exportação de couro, na indústria do papel e assumindo o cargo de diretor do Banco de São Paulo em 1867 (4). Através de uma concessão do governo fundou a Empresa de Navegação do Rio Araguaia em 1868, para a qual desmontou um navio e o transportou em carros de boi por mais de 400 km, do rio Paraguai ao rio Araguaia (5). Iniciou a navegação a vapor também nos rios Marajó e Tocantins e foi sócio fundador da Sociedade Promotora da Imigração em São Paulo (6).

No ramo ferroviário organizou, em sociedade com o Visconde de Mauá, a Estrada de Ferro do Rio Verde cuja concessão data de 1875 e que posteriormente teve os privilégios transferidos para a constituição da The Minas and Rio Railway Company Limited, com capital inglês. A ferrovia na verdade partia do município paulista de Cruzeiro, por onde já passava um ramal da Estrada de Ferro D. Pedro 2º, indo até Três Corações em Minas Gerais (7). Em função de seus negócios relativos a ferrovia Minas e Rio e a emissão de suas ações em Londres, Couto de Magalhães passou uma temporada na cidade, durante a década de 1880, período registrado em seu diário íntimo (8).

Na direção do Partido Liberal em São Paulo, Couto de Magalhães foi nomeado Presidente da Província de São Paulo quando seu aliado e amigo Afonso Celso de Assis Figueiredo, visconde de Ouro Preto, assumiu a presidência do Conselho de Ministros do Império (9). Seu curto governo, de 10 de junho de 1889 a 15 de novembro de 1889, constituiu-se no último do regime monárquico e foi permeado por ausências decorrentes de sua saúde frágil (10). Com a proclamação da república, passou o governo, no dia 16 de novembro de 1889, ao Governo Provisório constituído pelo triunvirato formado por Prudente de Morais, Rangel Pestana e o Coronel Joaquim de Souza Mursa (11). Ao contrário dos presidentes de província seus antecessores, e em virtude da mudança de regime, Couto de Magalhães não escreveu o relatório de seu governo (12).

Em 1890, foi internado no Sanatório dos Ingleses, em razão de uma crise nervosa. Já em 1893 no episódio da Revolta da Armada teve a prisão decretada pelo governo de Floriano Peixoto por ter financiado o tratamento dos revoltosos feridos. Tendo sido recolhido ao Hospital Militar foi depois autorizado a viajar, quando foi para a Europa e para a Argélia. Após seu retorno foi presidente do Clube dos Oficiais Honorários do Exército e diretor do Banco de São Paulo, instituição que fundara, até 1897 (13).

Percorrendo o interior do Brasil como um alto funcionário do Império explorando as possibilidades de navegação, abrindo estradas e etc., Couto de Magalhães incorporou aos seus empreendimentos relatos e impressões sobre costumes, natureza e povos, como parte do empreendimento (14). Dessas observações nasceram as suas propostas de integração e exploração do trabalho indígena, além de suas obras de caráter histórico e antropológico. A sua obra mais importante é O Selvagem (15), financiada pelo imperador D. Pedro II, especialmente para figurar na Biblioteca Americana da Exposição Universal da Filadélfia, em 1876, por ocasião das comemorações do centenário da independência americana (16).

Viajou também pela Europa e a África e falava francês, italiano, espanhol, inglês, alemão, tupi e outras línguas indígenas (17). Fundou o Colégio de Línguas Princesa Imperial Dona Isabel, voltado para a educação de crianças indígenas (1871), como parte de seu projeto de colonização e integração dos povos indígenas. Considerado o iniciador dos estudos folclóricos no Brasil produziu estudos derivados da linguística, botânica, etnologia e antropologia. Tendo trafegado por diferentes estilos literários e temas de interesse de sua época Couto de Magalhães enquadra-se entre os escritores do século XIX que engendraram mitos da nacionalidade a partir da valorização dos costumes, danças, hábitos, comidas e religiões considerados verdadeiramente brasileiros (18).

Dedicou-se, também, à física, mecânica, medicina e astronomia, tendo montado, em 1887, em sua casa na Ponte Grande, às margens do rio Tietê, um observatório astronômico, mais tarde doado à Escola Politécnica de São Paulo (19). Foi associado ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e diversas associações cientificas e literárias do Brasil e do exterior (20).

Entre as suas obras estão Os Guaianás: conto histórico sobre a fundação de São Paulo (1860); Viagem ao Araguaia (1863); Dezoito Mil Milhas do Interior do Brasil (1872); Ensaios de Antropologia (1874); O Selvagem (1876) e 7ª Conferencia para o Tricentenário de Anchieta. Assunto: Anchieta, as raças e línguas indígenas (1897). Escreveu, também, para o Jornal do Comércio e o Diário Popular e deixou vários trabalhos inacabados como um Gramática da Língua Geral e A Segunda Viagem ao Araguaia (21).

José Vieira Couto de Magalhães faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 14 de setembro 1898.

Notas bibliográficas:

(1) ALVES, O.R. Os homens que governaram São Paulo, p.108-109. Ed. Nobel/USP. São Paulo, 1986.
(2) Idem.
(3) EGAS, Eugênio. Galeria dos Presidentes de São Paulo: período monárquico 1822-1889, vol.1, 2ªed, p.755-757. São Paulo: publicação oficial do Estado de São Paulo,1926.
(4) MACHADO, Maria Helena P.T. Introdução e cronologia em MAGALHÃES, José Vieira Couto de. Diário Íntimo. Organização: Maria Helena P. T. Machado. Companhia das Letras. São Paulo, 1998.
(5) FIGUEIREDO, Afonso Celso de Assis. José Vieira Couto de Magalhães: subsídios para uma biografia. Revista do Arquivo Público Mineiro, ano 3, p. 499-518. Imprensa Oficial de Minas Gerais. Ouro Preto. 1898.
(6) MACHADO, op. cit.
(7) SILVA, Marcel Pereira da. De Gado a Café: As Ferrovias do Sul de Minas Gerais (1874-1910). Dissertação de mestrado em História Social. FFLCH/USP. São Paulo. 2012. MAUÁ, Irineu Evangelista de Sousa, Visconde de. Exposição do Visconde de Mauá aos credores de Mauá & C e ao publico. Rio de Janeiro: Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve & C. 1878. http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/242460
(8) Diário Íntimo. BR SPAPESP JVCM [126.1.2.1].
(9) LEITE, Aureliano. Prova revisada de O Brigadeiro Couto de Magalhães: o sentido nacionalista de sua obra, p. 112. Gráfica Sauer. Rio de Janeiro, 1936. IHGSP 246.
(10) MACHADO, op. cit.
(11) LEITE, p.99, op. cit. Aureliano Leite inclui em nota de rodapé um extenso testemunho da deposição de Couto de Magalhães do governo de São Paulo pelo deputado por Minas Gerais Dr. P. Mata Machado.
(12) EGAS, op. cit.
(13) Idem.
(14) MAIA, João Marcelo Ehlert. Governadores de Ruínas: os relatos de viagem de Couto de Magalhães e Leite Moraes. Revista Estudos Históricos, v. 2, n. 40, p. 3-23. Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro. 2007.
(15) MAGALHÃES, José Vieira Couto de. O Selvagem: I. Curso da língua geral segundo Ollendorf, compreendendo o texto original de lendas tupis. II. Origens, costumes, região selvagem, método a empregar pra amansa-los por intermédio das colônias militares e do interprete militar. Itatiaia. Belo Horizonte,1975.
(16) BORGES, Luís Carlos; MEDINA, Manuela Bretas de; MONTEIRO, Lívia Nascimento. Ciência, imaginário e civilização em Couto de Magalhães, Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, p. 250-266. 2012. Disponível em: <www.sbhc.org.br/arquivo/download?ID_ARQUIVO=962>. Acesso 25 mai. 2017.
(17) FIGUEIREDO, op. cit.
(18) LEITE, op.cit, p.150.
(19) MACHADO, Maria Helena P. T. Um mitógrafo no Império: a construção dos mitos da história nacionalista do século XIX em Revista Estudos Históricos, v.14, n. 25, p.63-80. Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro. 2000.
(20) EGAS, op. cit.
(21) LEITE, op.cit, p.52, p.55.

História arquivística

Não foram encontrados registros da entrada dos documentos de Couto de Magalhães no Arquivo Público do Estado de São Paulo, seja por doação ou compra. Uma relação de documentos datada da década de 1980 apresenta 15 das cartas do general em meio as de outras autoridades e personalidades da Província e da República (1). No entanto, o Guia de Arquivos Privados de 1994 já apresenta o Arquivo José Vieira Couto de Magalhães, composto por 16 cartas e um cartão (2).

Por sua vez, a descoberta dos diários íntimos é relatada pela professora Maria Helena Machado que os encontrou ao pesquisar documentos no acervo do APESP. “...uma descoberta fortuita...nas dependências do Arquivo do Estado de São Paulo, ocasião em que eu realizava pesquisa a respeito da Abolição em São Paulo...comecei a rastrear as caixas denominadas ‘Súditos Ingleses’...Topei com dois cadernos, anônimos, de capa preta, cuja leitura tornou-se, desde as primeiras páginas, uma atividade completamente fascinante...A leitura completa dos manuscritos indicou serem estes da pena do general José Vieira Couto de Magalhães...” (3).

De todo modo, os diários de Couto de Magalhães não parecem guardar qualquer relação funcional com os documentos das caixas então denominadas "Súditos Ingleses" referidas pela professora, o que possivelmente indica que a dissociação destes documentos é antiga, o que justificaria seu desconhecimento. Da mesma maneira, não se sabe a razão do porquê dos diários terem sofrido nova dissociação, desde há muitos anos perdendo-se sua localização. Em sua tese de doutorado o pesquisador Márcio Couto Henrique conta não ter podido consultar os diários originais em sua visita ao APESP no ano de 2006 porque estes não haviam sido localizados no acervo (4). O mesmo aconteceu com a pesquisadora Patrícia Simone de Araújo em 2011 (5).

Tendo sido os diários microfilmados a pedido da professora Maria Helena Machado a consulta a estes documentos é possível, atualmente, exclusivamente por meio do microfilme, e das cópias geradas a partir deste.

(1) Relação de Cartas Particulares e Oficiais da Caixa 2 (armário). Vários documentos do acervo do APESP, considerados de algum modo, especiais, por seus autógrafos ou seus assuntos, alguns provavelmente comprados, outros separados de seus fundos originais, permaneceram anos alocados em um armário ao qual poucos pesquisadores tinham acesso, além da direção do Arquivo. Posteriormente muitos destes documentos conformaram a chamada coleção DAESP.
(2) ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Guia de Arquivos Privados do Arquivo do Estado de São Paulo. São Paulo, 1994.
(3) MACHADO, Maria Helena P.T. Introdução e cronologia, p.9-10 em MAGALHÃES, José Vieira Couto de. Diário Íntimo. Organização: Maria Helena P. T. Machado. Companhia das Letras. São Paulo, 1998.
(4) HENRIQUE, Márcio Couto. Um toque de voyeurismo: o diário íntimo de Couto de Magalhães (1880-1887). Tese de doutorado. Universidade Federal do Pará. Belém, 2008.
(5) ARAUJO, Patrícia Simone de. Vasculhando a vida alheia: o diário íntimo de José Vieira Couto de Magalhães (1880 – 1887). Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2013.

Fonte imediata de aquisição ou transferência

Conteúdo e estrutura

Conteúdo

O fundo é composto por um pequeno número de cartas e dois diários íntimos.
As cartas tratam majoritariamente de questões financeiras relativas aos negócios e investimentos de Couto de Magalhães sobretudo em estradas de ferro. Outras cartas referem-se a solicitações de nomeação para cargos e outros assuntos, abrangendo inclusive o período em que Couto de Magalhães exerceu a Presidência da Província de São Paulo.
Os diários, escritos pelo general quase que completamente em Londres, em português e inglês, contêm registros relativos ao andamento dos seus investimentos e sua contabilidade, mas também, ao seu cotidiano, sua preocupação com a saúde e o próprio corpo, reflexões sobre a felicidade e sobre seus interesses intelectuais. Já as lembranças de sonhos eróticos estão registradas em nheengatu e códigos pessoais.

Avaliação, selecção e eliminação

Accruals

Classificação

Os documentos do fundo José Vieira Couto de Magalhães estão descritos unitariamente.


  • Cartas e Ofícios (1861-1898)

Documentos: 126.1.1.1 – 126.1.1.16 (16 documentos)

  • Cartão de apresentação (s/d)

Documentos: 126.1.1.17 (1 documento)

  • Diários íntimos (1880 -1887)

Documentos: 126.1.2.1 e 126.1.3.1 (2 documentos)

Condições de acesso e utilização

Condições de acesso

Sem restrição de acesso.

Condiçoes de reprodução


  • Reprodução de documentos textuais: o pesquisador que tenha interesse em reproduzir algum documento do acervo textual poderá fazê-lo com máquina fotográfica própria, mediante acompanhamento dos técnicos responsáveis, preenchendo o Termo de Responsabilidade no qual se compromete a atribuir os créditos ao Arquivo Público do Estado e declara estar ciente das penalidades previstas por lei quanto à divulgação destas informações.
  • Reprodução de documentos iconográficos: É permitida a reprodução fotográfica digital em baixa resolução, sem a utilização de equipamentos auxiliares, como flash e tripé mediante o preenchimento do Termo de Responsabilidade.
  • Serviço de digitalização: solicitações de digitalização são limitadas a uma quantidade máxima de documentos e exigem preenchimento do Termo de Responsabilidade. A digitalização de fotografias será realizada pelo Núcleo de Acervo Iconográfico. Caso a fotografia já esteja reproduzida em microfilme ou arquivo digital, a cópia deverá ser obrigatoriamente produzida a partir da matriz.
  • Direito autoral: no caso de obras que não sejam de domínio público, a utilização é de responsabilidade exclusiva do usuário e depende da autorização expressa dos detentores dos direitos, ou na forma da Lei de Direito Autoral (Lei 9.610 de 16 de fevereiro de 1998).

Idioma(s) do(s) documento(s)

  • francês
  • inglês
  • latim
  • português

Escrita(s)

Notas ao idioma e script

Contém registros em nheengatu.
Contém registros em código pessoal.

Características físicas e requisitos técnicos

Documentos em bom estado de conservação.

A consulta aos Diários Íntimos se dá exclusivamente por meio do, microfilme e suas cópias. As pastas 126.1.2.1 e 126.1.3.1 contêm cópias impressas do microfilme.

Documentos digitalizados ou microfilmados devem preferencialmente ser acessados através de suas cópias preservando os originais.

Instrumentos de descrição

Documentação associada

Existência e localização de originais

Existência e localização de cópias

Unidades de descrição relacionadas

Nota de publicação

MAGALHÃES, José Vieira Couto de. Diário Íntimo. Organização: Maria Helena P. T. Machado. Companhia das Letras. São Paulo, 1998.

Notas

Pontos de acesso

Assuntos relacionados

Localidades relacionadas

Nomes relacionados

Controle da descrição

Identificador da descrição

identificador da instituição

BR SPAPESP

Regras ou convenções utilizadas

Estatuto

Nível de detalhe

Data(s) da descrição

2018

Idioma(s)

Script(s)

Fontes

Nota do arquivista

Centro de Acervo Permanente / APESP

Metadados do objeto digital

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Ações