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Fonds BR SPAPESP MOV - Movimento
Relatórios

Zona de identificação

Código de referência

BR SPAPESP MOV

Título

Movimento

Data(s)

  • 1972 - 1995 (Produção)

Nível de descrição

Fonds

Dimensão e suporte


  • Dimensão: 323 pastas e 15 volumes encadernados (6.994 documentos);
  • Suporte: filme, papel, papel emulsionado.


  • Gênero: hemerográfico, iconográfico, textual.

Área de contextualização

Nome do produtor

Movimento (1975 - 1981)

História administrativa

Durante as décadas de 1960 e 1970, como crítica e resistência ao último período de governos militares brasileiros (1964 – 1985), desenvolveu-se no país uma nova forma de veículo de comunicação conhecida como “imprensa alternativa”. Esse meio de criação e divulgação de ideias surgiu no bojo da comunidade intelectual do período com a proposta de contrapor-se ao discurso da grande imprensa reconhecida como “oficial” (1). Eram, em sua maioria, pequenos jornais que constituíram importantes espaços de discussão e de reorganização da esquerda e conseguiram estabelecer com o leitor um tipo diferente de diálogo, mais dinâmico, crítico e interativo (2).
Inserido neste contexto surgia na cidade de São Paulo o jornal Movimento, um periódico de suma importância na contestação política da época e na história da imprensa alternativa no Brasil. O semanário nasceu com a proposta de debater questões políticas do quotidiano do país de forma mais complexa e representava diferentes vertentes da oposição ao regime político vigente. Com uma circulação razoavelmente abrangente entre intelectuais, classe média, pequena burguesia, grupos populares organizados, movimentos sociais, trabalhadores urbanos e do campo, lançou sua primeira edição no dia 7 de julho de 1975 (3).
Um dos aspectos de relevância do Movimento foi a qualidade intelectual e política de seus colaboradores. Entre jornalistas, políticos, intelectuais e militantes, passaram pelo jornal figuras como Raimundo Rodrigues Pereira, Bernardo Kucinski, Fernando Henrique Cardoso, Chico Buarque de Holanda, Sérgio Motta, Antonio Carlos Queiroz, Nelson Werneck Sodré, Tania Coelho, Alberto Dias Duarte, Tarso Genro e outros. Outro fator importante para a peculiaridade desse semanário era sua inédita forma jurídica, uma vez que foi pensado como uma empresa jornalística, onde quem escrevia tinha o poder de decisão (4). A ideia era produzir “um jornal dos jornalistas”, sendo a autonomia para escrever e expor ideias, um dos fundamentos da organização (5). Além disso, a propriedade da empresa era dividida entre todos aqueles que de alguma maneira participavam de sua produção, como garantia de uma gestão verdadeiramente democrática.
O Movimentou contava com pontos de apoio em 10 cidades, com sucursais em Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Belém, Salvador, Porto Alegre, Recife, Campinas e Londrina. Além do trabalho jornalístico realizado pelos correspondentes, esses grupos tinham o importante trabalho de propaganda e venda do periódico. Através de assinaturas ou avulsos, os exemplares eram divulgados e vendidos pelos colaboradores principalmente nas universidades, entidades de movimentos populares organizados e em outros lugares onde se concentrava o público alvo do jornal (7).
A construção de uma democracia interna no Movimento foi a principal fonte do grande capital político adquirido e também o que explica sua sustentação ao longo de seis anos apesar das dificuldades financeiras, das divergências internas e dos problemas surgidos das adversidades impostas pela censura e repressão (8).
Apesar de fundamental para o desenvolvimento e fortalecimento do Movimento, o debate sobre a democracia e a linha política que seguia o jornal foram também os pivôs de suas principais divergências internas, culminando no maior episódio de dissidência do semanário, conhecido como ”racha de 77”. A principal razão eram divergências políticas sobre a linha do jornal. Enquanto o grupo de Raimundo Pereira defendia uma aliança com toda oposição à ditadura militar, outro grupo de colaboradores, liderados por Bernardo Kucincski defendia um “jornal socialista”, rejeitando a aproximação com setores capitalistas da sociedade (9).
As divergências no jornal iriam crescer ao longo de 1976, intensificando-se no ano seguinte até que, em 1 de maio de 1977, ocorreria de fato “o racha”, com o pedido de demissão de parte significativa dos participantes do jornal. Além da sede em São Paulo, a sucursal de Belo Horizonte concentrou a maior parte dos dissidentes do semanário (10).
Apesar das perdas sofridas, o periódico conseguiu se reerguer em pouco tempo, por um lado devido à forte sustentação política que ainda possuía, e por outro, pelo fim da censura que chegaria no ano seguinte (11).
O jornal Movimento, que nasceu no contexto de abertura política do então presidente Ernest Geisel, defensor de uma transição democrática de forma “lenta, gradual e segura”, teve logo sua importância reconhecida dentro de um movimento democrático e, dessa forma, sofreu a imposição da censura prévia desde sua edição número 1. Ao longo dos mais de três anos de censura, o semanário foi o último meio de comunicação a ter suspenso o cerceamento em 1978. Durante esse período, foram vetados de suas páginas cerca de seis mil artigos e ilustrações (12).
Logo após a suspensão da censura o jornal teve um breve crescimento para, logo em seguida, sofrer uma queda em sua receita e, por decisão de seu Conselho de Redatores e da Assembleia dos Acionistas, o Movimento encerrou suas atividades, tendo sua última edição, nº 334, publicada em 23 de novembro de 1981.

(1) MONTIEL, R. Movimento: a janela de uma geração. A organização do fundo de arquivo”Jornal Movimento”. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo- Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Departamento de História Social. São Paulo,1996. AZEVEDO, C. Jornal Movimento: uma reportagem. Belo Horizonte: Manifesto Editora, 2011.
(2) MONTIEL, 1996 p. 60-70.
(3) MONTIEL, 1996; AZEVEDO, 2011.
(4) MONTIEL, 1996, p. 4.
(5) AZEVEDO, 2011, p. 17.
(6) MONTIEL, 1996, p. 48-49.
(7) AZEVEDO, 2011, p. 38-52.
(8) AZEVEDO, 2011, p. 95, p. 164-175.
(9) AZEVEDO, 2011, p. 115-126, p. 145-148.
(10) AZEVEDO, 2011, p. 115-126, p. 145-148.
(11) MONTIEL, 1996; AZEVEDO, 2011.
(12) AZEVEDO, 1996, p. 73-75.

História do arquivo

O acervo do Movimento, que após o encerramento do jornal em 1981, passou por seis depósitos distintos, alguns deles de guarda inadequada (1), ficou, em sua maior parte, sob responsabilidade do antigo diretor, Raimundo Rodrigues Pereira. Durante esse período, sofreu inserções de documentos pós-1981 relacionados às atividades de Raimundo Pereira, na Política Editora. Além disso, parte da documentação acabou ficando desmembrada entre arquivos particulares de colaboradores do jornal (2).

Em 1993, durante sua pesquisa de mestrado, Rosane Montiel interveio junto a Raimundo Rodrigues Pereira para que o arquivo em seu poder fosse transferido para o Centro de Apoio à Pesquisa Histórica (CSPH-USP), do Departamento de História da Universidade de São Paulo. Porém, antes de serem doados para a USP, os documentos foram cedidos ao jornalista Bernardo Kucinski para a conclusão de sua tese de doutorado.

Uma parcela dos documentos, composta por matérias censuradas pelo governo, já havia sido doada pelo próprio Raimundo Pereira ao Centro de Imprensa Alternativa e Cultura Popular - RIOARTE, e posteriormente transferido para o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro em 1994. No entanto, Montiel conseguiu reunir ainda, ao longo de seu trabalho, outros segmentos do acervo do movimento que estavam dissociados, como os documentos da Sucursal Brasília (3).

Em julho de 1998 o acervo foi doado ao Arquivo Público do Estado (APESP) através da professora do Departamento de História da Universidade de São Paulo, Zilda Marcia Gricoli Iokoi.(4). Além da documentação textual, foram doadas as fotografias e todas as edições do semanário, encadernadas em 15 volumes.

Apesar de não configurar a totalidade da documentação acumulada pelo periódico ao longo dos seus seis anos de produção, a parcela da documentação aqui reunida representa parte significativa do acervo original.

(1) MONTIEL, 1996, p. 2.
(2) MONTIEL, R. Movimento: a janela de uma geração. A organização do fundo de arquivo ”Jornal Movimento”. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo- Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Departamento de História Social. São Paulo,1996, p.33.
(3) MONTIEL, 1996, p. 34-39.
(4) ARQUIVO PÙBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, Termo de doação, 1998.

Fonte imediata de aquisição ou transferência

Zona do conteúdo e estrutura

Âmbito e conteúdo

O arquivo do jornal Movimento é composto por documentos textuais referentes às áreas administrativa, financeira, redação e editorial. Sua produção editorial está também contemplada, pois compõem o acervo, exemplares de todas as edições publicadas. Completam a documentação, ilustrações produzidas para as publicações, bem como ampliações fotográficas e negativos que faziam parte de seu centro de documentação e pesquisa.
Trata-se de fundo privado com características e complexidades próprias de uma experiência projetada para que todos os seus colaboradores tivessem participação nos rumos do jornal e onde as questões políticas e organizacionais se sobrepunham. Percebe-se, através de seus documentos, que havia uma grande preocupação no jornal em registrar suas atividades como forma de possibilitar uma divulgação efetiva do que se passava no cotidiano do jornal para que todos os colaboradores estivessem cientes dos problemas enfrentados e para que as decisões fossem tomadas coletivamente.
Composto entre outros documentos por pautas de reunião, comunicados de deliberação de reunião, propostas de matérias e artigos, atas de assembleia de acionistas, relatórios de atividade, cartas de colaboradores, redatores e diretores, cartas de leitores, manifestos públicos, pesquisas de opinião, estatutos, regimentos, listas de matérias e fotografias censuradas, propostas de layouts e diagramas, ilustrações, notas fiscais, relatórios financeiros, gráficos de venda, listas de pagamento de pessoal, escalas de trabalho, demonstrativos para acionistas, relatórios de venda, projetos de campanha de assinaturas, tabelas de preços de espaço publicitário, panfletos e cartazes de divulgação, além de dossiês temáticos, como o dossiê sobre a Censura ou o dossiê sobre a Convenção Nacional dos Redatores e Colaboradores do Movimento, o arquivo do jornal Movimento reflete uma acumulação orgânica de documentos gerados no bojo de suas atividades e comprova o desenvolvimento de atividades administrativas, jurídicas e intelectuais da organização (1).

(1). MONTIEL, R. Movimento: a janela de uma geração. A organização do fundo de arquivo”Jornal Movimento”. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo-Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Departamento de História Social. São Paulo, 1996, p. 48-49.

Avaliação, selecção e eliminação

Accruals

Sistema de organização

O primeiro quadro de arranjo do fundo foi elaborado por Rosana Montiel, durante o seu mestrado (1994-1996). A pesquisadora montou um arranjo baseado nas entrevistas com ex-integrantes do jornal, procurando reconstruir sua historicidade, assim como suas estruturas funcionais. Em 2001 a equipe técnica do Arquivo Público do Estado ao elaborar o catálogo do jornal, reconfigurou o arranjo de Montiel reordenando seus subgrupos segundo uma lógica mais funcional. O que se apresenta agora é esta última versão com algumas modificações, como, por exemplo, a introdução do grupo Produção Editorial, onde estão representadas as edições dos jornais, e a definição do subgrupo Centro de Documentação e Pesquisa, do grupo Técnico-Jornalístico, como o mais adequado para abrigar o acervo fotográfico. Outro aprimoramento diz respeito à identificação de tipos documentais presentes em cada grupo.
Os grupos são os seguintes:

- 106G1 Político-Editorial
- 106G2 Técnico-Jornalístico
- 106G3 Administrativo-Financeiro
- 106G4 Publicidade e Vendas
- 106G5 Sucursais
- 106G6 Produção Editorial

Zona de condições de acesso e utilização

Condições de acesso

Sem restrição de acesso.

Condiçoes de reprodução

O pesquisador que tenha interesse em reproduzir algum segmento do acervo pode fazê-lo com máquina fotográfica própria, preenchendo o pedido de Autorização de Reprodução de Imagens pelo qual se compromete a atribuir os créditos ao Arquivo Público do Estado e declara estar ciente das penalidades previstas por lei quanto à divulgação destas informações.
No caso de obras que não sejam de domínio público, a utilização é de responsabilidade exclusiva do usuário e depende da autorização expressa dos detentores dos direitos, ou na forma da Lei de Direito Autoral (Lei 9.610 de 16 de fevereiro de 1998).

Idioma do material

Script do material

Notas ao idioma e script

Características físicas e requisitos técnicos

A maior parte dos documentos encontra-se em bom estado de conservação, alguns necessitando de pequenos reparos, e outros, eventualmente, em tratamento.

Instrumentos de descrição

MONTIEL, Rosane. Movimento: A Janela de uma geração - A organização do fundo de arquivo do jornal Movimento. 1996. Dissertação (Mestrado)- Departamento de História FFLCH-USP. São Paulo, 1996.
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Catálogo do Arquivo do Jornal Movimento. São Paulo, 2001.
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Catálogo do acervo fotográfico do jornal Movimento. São Paulo, 2015.

Zona de documentação associada

Existência e localização de originais

Unidades de descrição relacionadas

Nota de publicação

ALVES, Maria Helena M. Estado e oposição no Brasil (1964-1984). Petrópolis: Editora Vozes,1984.

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÂO PAULO. Catálogo do Arquivo do Jornal Movimento. São Paulo: Imprensa Oficial, 2001.

AZEVEDO, C. Jornal Movimento: uma reportagem. Belo Horizonte: Manifesto Editora, 2011.

BARBALHO, Alexandre. Cultura e imprensa alternativa: a revista de cultura O Saco. Fortaleza: Ed. UECE, 2000.

CAPARELLI,S. Comunicação de massa sem massa. São Paulo: Editora Cortez, 1993.

CHINEM, Rivaldo. Imprensa Alternativa: Jornalismo de oposição e inovação. São Paulo: Ed. Ática, 1995.

FESTA, Regina; SILVA, Carlos Eduardo Lins da. (Orgs.). Comunicação Popular e Alternativa no Brasil. São Paulo: Ed. Paulinas, 1986.

KUCINSKI,B. Jornalistas e Revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa. São Paulo: Edusp,2001.

MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tania Regina de. (Orgs.). História da imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008.

MONTIEL, R. Movimento: a janela de uma geração. A organização do fundo de arquivo”Jornal Movimento”. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo- Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Departamento de História Social. São Paulo,1996.

Zona de notas

Pontos de acesso

Pontos de acesso - assunto

Pontos de acesso - lugares

Ponto de acesso - nome

Zona do controlo da descrição

Identificador da descrição

identificador da instituição

BR SPAPESP

Regras ou convenções utilizadas

Estatuto

Nível de detalhe

Datas de criação, revisão, eliminação

2016

Idioma(s)

Script(s)

Fontes

Nota do arquivista

Centro de Acervo Permanente / APESP
Centro de Acervo Iconográfico e Cartográfico / APESP
Centro de Difusão e Apoio à Pesquisa / APESP

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